domingo, 10 de maio de 2015

Os cianicidas, um perigo para a cianetação de ouro

Cianicidas são todos os metais que se dissolvem em solução de cianeto: Cu, Pb, Zn, Ni, Cd, Fe, Co, Sb, As, Hg e acabam com o cianeto antes de ele dissolver o ouro ou aumentam a necessidade de cianeto ao ponto do processo ficar anti econômico

De Maria Luiza Souza, Montevideo, 20 Setembro 2013

Sulfetos e óxidos de ferro estão presentes na maioria dos minerais auríferos. A pirita aparece como o mais comum dentre os sulfetos, seguida da arsenopirita e da pirrotita.
A marcassita e a pirrotita são os sulfetos de ferro mais reativos, enquanto a pirita e a arsenopirita são praticamente insolúveis durante a cianetação. “Graças a Deus”!
Considerando a freqüente associação do ouro com a pirita (inclusive o famoso “ouro invisível”) esta baixa solubilidade em meio cianetado é um dos fatores determinantes para a seletividade da cianetação. Muitos pesquisadores atribuem a baixa solubilidade da pirita (que não é prevista na termodinâmica) à formação de uma camada superficial passivadora, rica em oxigênio. É possível que esta camada oxidada atue como uma barreira natural à oxidação do sulfeto. Fatores cinéticos seriam outra explicação.
É importante destacar que os óxidos de Fe(III), como a hematita e a goetita, são praticamente insolúveis na cianetação, a despeito da extensa área de estabilidade dos cianocomplexos de ferro prevista pelos diagramas Eh-pH.
A arsenopirita, o realgar e o ouro-pigmento são sulfetos de arsênio de ocorrência freqüente em minerais de ouro, entretanto todos apresentam baixa solubilidade em meio cianetado.
De qualquer forma, é pratica usual a utilização da aeração prévia e intensiva da polpa, seguida de cianetação em condições de baixa alcalinidade. Isto tem um duplo objetivo :
trabalhar em condições que reduzam a solubilidade dos sulfetos pela formação de uma camada passivadora de óxido de ferro nos sulfetos mais solúveis e acelerar a oxidação do sulfeto a tiossulfato e, finalmente, a sulfato, diminuindo a formação de tiocianato.
As dificuldades encontradas na prática industrial na lixiviação de ouro associado à pirita e à arsenopirita são determinadas, principalmente, pela granulometria muito fina do ouro no mineral hospedeiro (incluindo o tal “ouro invisível” ) e não pela interferência de compostos de arsênio e ferro solubilizados.
A presença de ouro encapsulado e na forma de grãos muito finos exigirá uma moagem muito fina ou mesmo uma etapa de oxidação sob pressão, bio-oxidação ou ustulação.
Na oxidação sob pressão e na bio-oxidação, o As é descartado na forma de arsenato férrico. A ustulação de minerais contendo arsenopirita é conduzida em dois estágios: primeiro
A ustulação de minerais contendo arsenopirita é conduzida em duas etapas:
- primeiro estágio é realizado entre 450 e 650 oC e visa a remoção do arsênio na forma de trióxido de arsênio gasoso;
- segundo estágio é realizado entre 650 e 750 oC, no qual são formados a hematita e o dióxido de enxofre gasoso.
O trióxido de arsênio, resfriado e coletado na forma sólida deverá ser disposto em valas preparadas, impermeabilizadas e monitoradas, já que este material é altamente tóxico.
Minerais de ouro contendo sulfetos de antimônio, como a estibinita, apresentam comportamento semelhante aos que contem arsênio. Alguns produtos de oxidação, tais como tioantimonitos (SbS33-) e tioantimonitos (SbS43-) podem formar películas passivadoras sobre o ouro, causando uma redução significativa da taxa de cianetação.
Minerais de cobre na forma de sulfetos ou de minerais oxidados, são constituintes freqüentes dos minérios de ouro. A malaquita (CuCO3), a cuprita (Cu2O), a calcocita (Cu2S), a bornita (Cu5FeS4) bem como o cobre nativo são prontamente solúveis em soluções cianetadas.
Algumas exceções são a crisocola (CuSiO3) e a calcopirita (CuFeS2), que é o menos solúvel dentre estes. Nas condições típicas da cianetação, o principal complexo formado é o [Cu(CN) 3]2- e a relação 3CN/1Cu indica a extensão do consumo de cianeto causado por pequenos teores de cobre solúvel no mineral de ouro.
Nestes casos, uma razão mínima de CN/Cu = 4 é recomendada. Entretanto, quando a concentração de cobre for muito elevada, a viabilidade do projeto pode ficar comprometida devido ao alto consumo de cianeto exigido.
Há algumas abordagens propostas: remoção prévia do cobre via dissolução seletiva (pré-lixiviação ácida); complexação/precipitação do cobre via cianetação amoniacal; recuperação do cianeto consumido via processo AVR e suas variações.
Observar que O cobre passa “incólume” por todos os estágios de extração do ouro, estando presente até mesmo no bullion (ou doré).


0 comentários:

Postar um comentário