segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A sensibilidade de uma escritora ao observar a vida das mulheres do garimpo na Amazônia: NADA MUDOU !

POR ISABELA GAGLIANONE

O romance A mulher do garimpo – O romance do extremo sertão do Amazonas foi publicado pela primeira vez na década de setenta. Sua autora, Nenê Macaggi, nasceu no Paraná, em 1913. No início da década de quarenta, mudou-se para a Amazônia, enviada pelo então presidente, Getúlio Vargas, com vistas a desenvolver um trabalho jornalístico que pormenorizasse a situação da região. Macaggi estabeleceu-se primeiro no Amazonas, em 1941, e, em 1942, mudou-se para Roraima, onde prosseguiu seu trabalho jornalístico e literário. Como seus escritos passaram a ocupar-se com a descrição do cotidiano do povo, ela é considerada não somente uma escritora roraimense, como a verdadeira inauguradora do discurso literário do estado.
A mulher do garimpo foi seu primeiro romance sobre o sertão amazonense. Nele, Macaggi desenvolve o projeto de criação de uma identidade amazônica, sobretudo da região de Roraima. Sua prosa observadora, nos detalhes cotidianos descritos se faz ressoar como um ensaio sociológico, tão rica a teia de panoramas que compõe. Descreve as dificuldades da vida dos garimpeiros, discute a demarcação dos territórios, aponta problemas decorrentes da migração e questões indígenas.  A identidade roraimense mostrada pelo romance é consonante ao imaginário acerca da Amazônia, estabelecendo contato argumentativo com outras obras brasileiras. Sobretudo a questão feminina é abordada: a situação das viúvas do garimpo, a prostituição alastrada, como único meio de sobrevivência, a morte precoce dos filhos.

Zanny Adairalba escreveu um poema em que narra a vida de Nenê Macaggi. Em parte dele, conta:

“[…] E conta o povo dali
Que aquela mulher guerreira
Se disfarçou foi de homem
Com calça, bota e peixeira
Pra trabalhar no garimpo
Usando enxada e peneira

Cortou cabelo bem curto
Meteu-se naquela lama
Falava pouco com os outros
Pra não estragar sua trama
Seguia assim, bem discreta
Pra desviar-se de drama

Pois tudo o que ela queria
Era colher informação
De forma bem mais precisa
Além do lápis na mão
E assim, a moça, algum tempo
Passou-se por “cidadão”

E nesse seu trabalhar
No barro do Tepequém
A vida do garimpeiro
Ela traçou muito bem
Com a história da pecuária
Com a dos índios também

Até que um dia um senhor
Achou um tanto estranho:
Que aquele “moço” calado
Não se mostrava no banho
E assim, Nenê foi-se embora
Vendo o perigo tamanho

Mas que ela foi corajosa
Está bem claro de ver
Depois publicou seu livro
Deixou pra mim, pra você
Foi “A mulher do garimpo”
Tesouro do escrever!

Uma herança pra história
Firmada com louvação
Traçada em linhas bem postas
De um tempo em que o cidadão
Ganhava ou perdia a vida
Tirando ouro do chão […]”.


1 comentários:

Olá! Gostaria de saber onde posso encontrar esse livro? Obrigada

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