terça-feira, 2 de junho de 2015

Poema enviado para um geólogo que desbravou a Amazônia mineral nos anos 70 e 80

Esse poema do colega Roberto Assad foi escrito quando o "Alemã" ainda estava vivo

Enviado por Fernando Lemos

Ele mostra como a geologia era feita nos primórdios

DÉCIO MEYER - JIM DAS  SELVAS
Décio João Keune Meyer: você é uma exceção.
A selva foi sua casa,
O minério sua razão.

De bravura sem fim,
Te conheci mais de perto,
Idos anos em Almeirim.

Era difícil saber,
Onde a coragem terminava,
E o Décio começava.
E nessa mistura, com o ânimo catalisador,
Surge “Alemão”- o desbravador!

Sumia na selva, meses a fio,
Na busca do minério sua paixão,
E com sua equipe enfrentava,
Mil perigos na ação.

Dias subindo rios,
Com cachoeiras perigosas,
Muitas vezes o barco virava
E botavam o “bruto” nas costas.

Só quem viu sabe o que é:
Levar tudo pela margem,
Sem motor, tudo pifado
É preciso ter coragem!

Não sei quantas verdades,
Que já ficaram para trás,
Lembra de Almeirim?
Sua equipe, sem igual, e seu grande capataz?
Em sobrevôo rasante, sem porta no avião,
“Carlindo” arremessava toda alimentação.

Raramente ia um bolo, mas sempre fumo de rolo,
Para a peãozada que te amava,
E te queria de novo,
O volume 51 era a maior preocupação,
Pois nele estava a cachaça
Alegria do peão.

Me lembro pela fonia,
Quanto para queda perdido,
Na árvore pendurado,
E nem por isso ficava, Décio, mal humorado.

Resgatar pára-quedas
Tinha como missão corajoso caboclinho,
Que de tanto subir em árvore,
Foi apelidado Macaquinho.

Cagaste no toco,
Pernilongo te mamou,
Passou aperto no mato,
Treze malárias pegou.

Sobrevôos, não sei quantos,
Com seus pilotos doidões!
E você sorria, safado,
Fazendo anotações,
Olhando pro chão muito perto,
E desenhando os padrões.

Quantas vezes dormiu,
Com rede amarrada em pau,
Sem teto para cobrir,
Uma loucura total?

Lembra um pedido a Belém, sem especificação?
Uma mesa de ping-pong,
Para distrair o peão,
E pra você eles mandaram
Uma mesinha ternura:
Tinha um metro de comprimento,
E meio metro de largura,
E você, Alemão,
Tinha um metro e noventa de altura!

E os pintos, que confusão!
Quando você pediu, de montão,
E com eles uma porrada de ração,
A empresa não permitiu tal solicitação.

Duas vezes te acompanhei,
Em missão de reconhecimento,
Mas não fiz mais isso não,
Era muito sofrimento.

Você me amarrou um jamanxim na testa,
Como se fora um jumento,
O desgraçado pesava como diabo,
E ficava pra trás um rabo,
Com um metro de comprimento.

Eu subia aquelas serras,
Em posição de corcunda,
Pernilongo me ferrando,
Na frente e na minha bunda.

Você gritava: Fuma e joga a fumaça,
Para espantar o pernilongo,
Pra isso que eu lhe entreguei,
Uma caixa de porongo.

Escutei uma história
Difícil de acreditar,
Quando você saiu da selva
E veio pro Rio morar,
Que não se acostumava
Com o modo normal de cagar.

Colocou no banheiro,
Um toco de árvore pro evento,
Pois só dessa maneira
Jorrava seu excremento.

Sua equipe descobriu, na Amazônia,
Muito cobre e outros minerais,
Que a história registrou,
E não esquecerá jamais!

Foi pouco reconhecido
Nessa sociedade de otário,
Que só aplaude outros feitos
Como os gols do Romário,
Enquanto outros gigantes,
Que enriquecem o País,
Com o sacrifício do corpo,
São vistos como raiz,
Que, escondidos, empurram
Com sua força motriz,
O que gera o fruto do povo,
Mas que quase ninguém diz.

E aqui um recado,
Pro mundo mal informado,
É que você trabalhou pra estatal,
Sofreu tudo o que foi falado.

Foi para multinacional,
Branco, preto, homem, mulher,
Sem distinção qualquer,
Velho, moço ou viado,
Competência e resultado,
Caso a caso deve-se estudar,
Antes de se malhar.

Parar de sacanagem
Como o Décio, trabalhar.
Aí o País vai pra frente,
Saindo da merda e brilhar.
Alem do mais, trabalhando,
Se esquece de roubar!

Décio, a doença te pegou,
Você está no hospital,
Mas, como brilham os seus olhos,
Quando se fala em mineral.

Você vai sair dessa,
Geólogo fenomenal!!!!



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