quinta-feira, 14 de agosto de 2014
O perigoso efeito manada nos preços do ouro e diamante
Se há um setor da economia que precisa de
planejamento é o setor mineral por causa dos longos tempos de maturação, mas
como combinar planejamento e efeito manada?
‘Maria vai com as outras': entendendo o efeito
manada em humanos e o porque de se formar preços artificiais nos minérios
e nas ações das empresas de mineração
Faz
tempo que não escuto essa expressão, mas a história sobre uma ovelhinha chamada
Maria que fazia tudo o que as demais faziam, apenas por que os outros estavam
fazendo (li em algum lugar, não sei se confiável ou não, que o termo
‘maria-vai-com-as-outras’ é uma analogia a uma rainha de Portugal, Dona
Maria I, que devido a suas condições mentais só saia de casa acompanhada
de outras damas). Quando estava nos primeiros anos escolares, não raramente eu
adotava comportamentos diferentes do habitual quando estava com os colegas. E
minha mãe sempre me alertava brincado, dizendo que eu não poderia ser ‘Maria
vai com as outras’.
O efeito
manada é a forma séria de entender o fenômeno ‘Maria vai com as
outras’ que ocorre na sociedade. Quando indivíduos recebem determinadas
informações e passam a atuar em bando, como uma manada. Isso acontece porque
não tomamos necessariamente uma decisão consciente, e seguimos a maioria – não
se trata somente de não querer ficar de fora’, mas sim uma função automática do
cérebro, em que um sujeito passivo simplesmente adere a uma decisão coletiva,
deixando-se guiar pela emoção.
Na
natureza, em animais que andam em grupo, é comum esse tipo de
comportamento. Não raramente quando estão em bando um antílope começa a correr,
e em seguida outro e outro e assim por diante, no final todos estão correndo,
por que está no insto do animal: se um antílope saiu correndo, deve haver algum
perigo por perto. Nesse caso, seguir o grupo pode fazer toda a diferença, pois
um antílope que demorar mais tempo para fazer algo pode se tornar um alvo mais
fácil.
No ser
humano não é á diferente. Diante de uma crise, um efeito manada de acionistas
vendendo ações pode ocasionar uma ruptura na bolsa de valores. Como uma
manada, todo mundo criou sua conta no Orkut, e quando este já não era bom o
bastante, migraram como uma manada para o facebook. Programas de humor são
editados, colocando risos ao final de cada piada, e muitas vezes acabamos rindo
mesmo sem entender a piada (claro que um riso xoxo, mas mesmo assim vale).
Isto vale para o ouro, os
diamantes e principalmente os papeis ligados a estes dependem do otimismo dos
maiores países consumidores (USA)
O primeiro efeito manada que a
história humana registrou não se referiu a um mineral mas a uma planta, mas
mostra o quanto os preço dependem do lado psicológico humano:
Em 1593 o botânico Carolus
Clusius trouxe alguns bulbos de tulipa depois de uma viagem a Constantinopla (a
atual Istambul). Seu objetivo era usar as plantas para fins medicinais e ele as
plantou em um pequeno jardim em sua casa. Ao ver as raras tulipas, seus
vizinhos decidiram ir atrás de lucro fácil e roubaram os bulbos para
revendê-los. Isso deu origem a
uma louca mania por tulipas que afetou todo o país.
No início do século XVII tulipas
se tornaram um símbolo de status na Holanda e isso fez com que seus preços
começassem a subir. Quanto mais rara a tulipa, mais valiosa ela era
considerada. Especuladores logo perceberam que podiam lucrar com essa mania e
passaram a comprar bulbos para revendê-los a preços ainda mais caros. A mania
por tulipas era tão grande que os preços chegaram
a aumentar 20 vezes em um único mês. As
plantas eram consideradas tão valiosas que muita gente dava todos os seus bens
em troca de um simples bulbo, que poderia custar dinheiro o suficiente para
sustentar por meses toda a tripulação de um navio.
Um grande problema do mercado de
tulipas é que os bulbos não florescem até entre 7 e 12 anos depois de serem
plantados. Quando a floração finalmente ocorre, ela dura uma semana entre maio
e abril, com os bulbos aparecendo entre junho e setembro. Estas características
limitavam a venda das plantas somente em uma temporada fixa. Para contornar o
impedimento e poder negociar o ano inteiro, os especuladores passaram a vender
contratos de tulipas. Ao assinar
um contrato, um comprador assumia o dever de comprar determinada tulipa no
final da temporada, essencialmente, como um moderno contrato de futuros. Assim como as próprias tulipas, os
contratos passaram a ser negociados, iniciando o primeiro mercados de
derivativos do mundo.
Em 1636, as tulipas e os seus
contratos eram tão visados que eram negociados na Bolsa de Amsterdam, em
Rotterdam, Haarlem, Leyden, Alkmar, Hoorn e outras cidades por todo o país. A
febre das tulipas chegou até a fazer pequenas incursões em Londres e Paris,
apesar de não conseguir chegar à mesma escala que em seu país de origem. Era
inevitável, entretanto, que eventualmente alguém fosse perceber que estava
pagando fortunas inimagináveis por nada mais do que uma planta de jardim. Isso ocorreu no inverno de
1636-1637 em Haarlem, quando um comprador não honrou o seu contrato, gerando um
pânico que fez com que, em questão de dias, os preços das tulipas caíssem para
um centésimo de seus valores anteriores. A bolha havia estourado.
Muitas pessoas que haviam dado
tudo o que tinham para ter uma tulipa, agora se encontravam apenas com uma
planta sem nenhum valor de mercado. Ao ver a desvalorização das plantas,
compradores decidiam não honrar os contratos, levando muitos vendedores à
falência. O governo tentou apaziguar a situação, fazendo a oferta de honrar 10%
do valor original dos contratos, o que só fez com que o mercado despencasse
ainda mais.
A crise das tulipas foi a
primeira bolha do mercado financeiro, deu início a uma depressão econômica que
durou vários anos e gerou uma considerável desconfiança a investimentos
especulativos por parte dos holandeses.
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