terça-feira, 5 de agosto de 2014
Os índios estão divididos no Pará.
Uns apostam no ouro dos
garimpeiros, outros apostam no dinheiro do governo com a chantagem a destruição
da floresta, outros pressionam as grandes empresas. Porque nenhum aposta na
harmonia com a floresta nativa.....?
Alimentado
pelos preços em alta do ouro, um novo surto de garimpo ilegal está se
alastrando com rapidez e gerando destruição numa das últimas áreas de floresta
amazônica no sudeste do Pará. Com máquinas pesadas (PC), os garimpeiros avançam
por territórios habitados pelo povo kayapó e assediam os índios, que estão
divididos quanto à atividade.
Alguns
líderes kayapós passaram a tolerar o garimpo em suas terras em troca de um
percentual dos lucros. Eles dizem precisar dos recursos para sustentar as
aldeias ( NÃO ALARDEIAM QUE OS INDIOS VIVEM EM PERFEITA HARMONIA COM O QUE
A FLORESTA LHES OFERECE !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) e cobram do governo
políticas que lhes permitam abrir mão das receitas.
A
atividade, porém, é ilegal, e seu combate compete ao Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e à Fundação Nacional
do Índio (Funai).
Segundo
Thaís Dias Gonçalves, coordenadora geral de monitoramento territorial da Funai,
a Terra Indígena (TI) Kayapó, em Ourilândia do Norte, é a área indígena do país
onde a atividade garimpeira é mais intensa.
A Funai
diz que há por volta de 25 frentes ativas de garimpo dentro da TI. O território
– que ocupa cerca de 33 mil quilômetros quadrados, área equivalente à de
Alagoas e do Distrito Federal somados – é quase inteiramente coberto por mata
nativa.
A TI
Kayapó convive com surtos esporádicos de garimpo há décadas. Segundo a Funai,
porém, a atividade alcançou níveis sem precedentes nos últimos meses.
A BBC
Brasil acompanhou uma operação contra o garimpo na área na semana passada. De
helicóptero ou avião, veem-se as enormes clareiras com lagos artificiais
abertos pelas escavadeiras. Algumas frentes de garimpo têm cerca de 40
quilômetros quadrados, o equivalente a 4000 campos de futebol. Nos rios que
cruzam a terra dos kayapó, cerca de 90 balsas reviram o solo em busca do metal.
Os
agentes do Ibama e da Funai desceram em algumas minas ( GARIMPOS) e
deram prazo de dez dias para que os garimpeiros deixassem o local. Os órgãos
estimam que haja na terra indígena entre 4 e 5 mil garimpeiros, o equivalente a
quase um terço do total de índios na área (16 mil). Segundo os agentes, quem
ficar será expulso e terá seus equipamentos destruídos.
Moradores
da região dizem que o garimpo poluiu os rios e reduziu drasticamente o número
de peixes. Para separar e aglutinar o metal, garimpeiros usam mercúrio e
cianeto, duas substâncias tóxicas.
“O
garimpo é o ilícito ambiental mais grave que o Ibama enfrenta hoje no país”,
diz à BBC Brasil o diretor de proteção ambiental do órgão, Luciano de Menezes
Evaristo.
Evaristo
cita, além da destruição causada pela atividade, suas consequências sociais. “O
garimpo traz no seu bojo uma decadência: com ele vêm o tráfico de drogas, a
prostituição e a exploração do trabalho infantil.”
O diretor
do Ibama afirma que os casos de garimpo no país têm se multiplicado,
especialmente no Pará. Segundo Evaristo, outro ponto crítico no Estado é a
bacia do rio Tapajós, no oeste paraense, onde há pelo menos 3 mil frentes da
atividade.
O diretor
do Ibama atribuiu o surto ao bom preço do metal. Considerado um investimento
seguro em tempos de instabilidade na economia, o ouro valia cerca de US$ 800
dólares a onça (31 gramas) no fim de 2007. Hoje vale US$ 1.297.
Índios
divididos – Na semana passada, a BBC Brasil acompanhou uma reunião na sede da
Funai em Tucumã em que o Ibama informou autoridades locais e cerca de 15
líderes kayapós sobre a operação contra o garimpo.
Alguns
índios se queixaram da ação e disseram que a atividade ajuda a sustentar suas
aldeias. Segundo eles, os garimpeiros pagam às comunidades um percentual de
seus lucros.
O cacique
Niti Kayapó, da aldeia Kikretum, ( aldeia do tuto kaiapó pombo) afirmou
que o dinheiro do garimpo tem lhe ajudado a pagar o aluguel de tratores usados na
colheita de castanha – atividade que, segundo ele, é a principal fonte de renda
de sua comunidade.
“Eu
preciso ter alguma coisa para a comunidade. Se vocês (governo) disserem que têm
um projeto de 300, 500 mil reais para nós, a gente vai lá e tira os garimpeiros.
Mas vocês não têm.”
Houve um
bate-boca quando um índio disse que o garimpo em área vizinha à sua aldeia
tinha poluído a água usada por sua comunidade. A maioria dos líderes presentes
assinou uma carta pedindo que os garimpeiros fossem expulsos da TI.
Na
reunião, os índios também pediram às autoridades que pressionassem a mineradora
Vale a executar seu plano de compensação por ter implantado uma mina a 34
quilômetros da TI.
Para
mitigar o impacto na área da mina Onça Puma, que produz ferro-níquel, a empresa
se comprometeu, entre outras ações, a construir uma casa de apoio para
indígenas em Ourilândia do Norte, e financiar projetos de geração de renda nas
aldeias.
Segundo a
Funai, as ações, que vêm sendo negociadas há quase uma década, custarão cerca
de R$ 3,5 milhões. Nesta semana, 70 índios foram à sede da mineradora em
Redenção ( não é) para reforçar a cobrança. Em nota à BBC Brasil, a
mineradora disse que o plano começará a vigorar em agosto.
Os índios
também cobram da estatal Eletrobrás e do consórcio Norte Energia que cumpram o
compromisso de financiar projetos de geração de renda nas aldeias. O acordo é
uma contrapartida pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, que fica a
cerca de 500 quilômetros da TI Kayapó, rio Xingu abaixo.
Em nota,
a Eletrobrás afirmou que os projetos devem ser pactuados com os índios até o
fim de 2014 e executados a partir de 2015. Serão destinados R$ 1,5 milhão por
ano às ações, ao longo de três anos.
Segundo
Thaís Dias Gonçalves, coordenadora geral de monitoramento territorial da Funai,
somente serão contempladas pelos programas da Vale e da Eletrobrás/Norte
Energia as aldeias que não tenham qualquer envolvimento com o garimpo.
Ela
afirma, no entanto, que os programas não serão capazes de competir com o garimpo
em volume de recursos.
Para
Gonçalves, erradicar a atividade na área de uma vez por todas exige um trabalho
de inteligência policial, que identifique quem está lucrando com o negócio.
“Tanto o garimpeiro quanto o indígena envolvido são parte muito pequena de uma
cadeia fortíssima.” (Fonte: G1)
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