quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Diálogos gravados de garimpeiros a respeito da mulherada do cabaré


Ver também: O cabaré do Pelado

Além das gírias garimpeiras que formam um português com terminologias próprias, há também uma linguagem paralela, um verdadeiro dialeto que recolhemos por gravação e que apresentamos transcrito "sensu scripto" em negrito abaixo. Esse dialeto mostra o quanto uma língua pode se desvirtuar rapidamente no isolamento das comunidades amazônicas e apesar da televisão.

Quando chega a mulher no cabaré ela se apresenta com um nome de guerra, para o qual ela pretende ser chamada, mas os garimpeiros criam imediatamente um apelido para cada uma, que da suporte aos diálogos entre eles:

“Burra de frente” é se se enfeita muito, “Maria arroz cru”, se é rígida de carne, ou Poção da grota se são flácidas ou mesmo Maria Serrotão se são magras e mostram o espinhaço dorsal e assim por diante.
Nos Monchões, a garimpeirama, enquanto trabalha, faz seus planos para as noites que não são consecutivas e dependem do ouro que conseguirão ganhar, em voz alta e contestada por alguns companheiros:

- Hoje, aquela fogoizona de corpo comprido e o cagadô baixo, vai sabé quantos quilos o Degas aqui pesa. 
- E quando o Manezimm só consegue mexer dos zóios abaixo da anta buxuda.
- Tua lá presta mais pra nada, trem a tôa..
- Insprumental mode tu vê....
- Qua; eu boto até minha irmã, que tudo é quem nem rabo de ovelha...

- A gargalhada é geral em meio a esse ingenuamente feliz dialogo, que faz do próprio sofrimento um motivo para rir, como se risse da própria sorte adversa, vivendo meses ermos, dividindo com antas e onças, condomínio da selva que exploram por conta própria.
Nos cabarés, à noite, os cantores da moda, de quem eles gostam, os empurram pelos salões poeirentos, cheirando a suor, pingas e loções baratas, amparados pelas mulheres meio grogues de ice e cerveja.
- é 5 gramas a chave do quarto, avisa a mulher ao acompanhante, que essa quantia, afora o lucro das bebidas e a percentagem do ganho da mulher, formam a renda do mercador de sexo e devem ser pagos no ato ao cabarezeiro.
E pela manha, a ressaca, quando não curtida na carga de gonorreia ou sífilis para comer o que sobrou da farra nas farmácias improvisadas das currutelas garimpeiras.
E a mulherada em rodas faz as unhas rindo sem nenhuma inocência das carências dos peões envacorados.


0 comentários:

Postar um comentário