terça-feira, 24 de março de 2015
Afinal, qual é o motivo da crise das mineradoras no Brasil?
Estivemos em mais um PDAC no começo de
março. O evento, como se esperava, estava condizente com o clima ameno dos investimentos, isto é, um tanto quanto
vazio, sendo notória a ausência de brasileiros que costumam estar presentes. No
entanto, não nos pareceu ser uma exclusividade
nossa este clima de fim de festa.
Ficaram evidentes os esforços da
organização para tentar transmitir mais otimismo e disfarçar o esvaziamento do
evento. Para tanto, criaram um novo pavilhão logo no
hall do Hotel Intercontinental antes do pavilhão dos eventos, aumentaram os
espaços de circulação, dentre outras medidas.
Mas para os que participaram do PDAC ao longo dos últimos anos, foram nítidos
os sinais de que estamos diante de uma nova
realidade. As mesas e cadeiras para bate papo estavam quase todo o tempo com
lugares disponíveis, o café estava sempre sem
filas e vimos que muitos stands de companhias mudaram para lugares melhores,
além de vermos alguns expositores inéditos. Ou
seja, muita gente desistiu de participar, o que acabou propiciando melhorias
nas localizações, além de acesso a empresas
que aguardavam anos na fila por um estande.
AS COMMODITIES
O consenso é de que o boom das
commodities ficou para trás. Os preços atuais equivalem aos praticados em 2007,
muito longe do boom de julho de 2008. A China, que
puxava os preços, diminuiu seu crescimento e está buscando jogar os preços cada
vez mais para baixo e reduzindo estoques,
sem se importar com o efeito que isso irá causar nas suas próprias minas. O
minério de ferro, hoje vendido a menos de 1/3 dos
valores de pico, não parece sequer assustar as maiores produtoras que,
antecipando esta possibilidade, aumentaram sua
produtividade, reduziram custos, e veem este cenário com uma boa possibilidade
de extinguir a concorrência dos pequenos
e/ou novos produtores.
Os preços da RTZ e BHP indicam custos
da ordem de U$17 e U$20 (sem impostos e frete), o que faz com que preços na
faixa de U$55-60 não sejam ruins. No entanto,
tais empresas em breve irão novamente às compras e provavelmente encontrarão os pequenos e/ou novos produtores em
recuperação judicial ou fechados, aceitando qualquer valor por seus ativos.
Certamente, a partir deste momento veremos uma
recuperação dos preços do minério de ferro.
Os metais básicos e preciosos também
seguem esta tendência de baixa. Mesmo tendo sido menos afetados que o ferro, igualmente sofrem por excesso de
vendas. O cobre apresentou uma redução de 40% se comparado com os preços de
quatro anos atrás. O alumínio reduziu em 30%,
o chumbo 38% e níquel 50%. Como causas temos a redução de estoques e o excesso de vendas.
Há um consenso entre os analistas de
que os preços tendem a se manter nos níveis atuais por no mínimo 5 anos, com
exceção do cobre, que pode se recuperar um
pouco antes, num prazo de 2 a 3 anos, movido já pela dificuldade de muitas
mineradoras manterem baixos seus custos e pelo fato
de os teores estarem cada vez mais baixos nas minas atuais.
Os metais preciosos, que não são
condicionados ao crescimento da indústria, seguem uma tendência própria, mais
alinhados à economia e indústria joalheira, podem
ter uma oscilação positiva. Divergindo deste quadro temos zinco e diamante, que mostram ser de grande interesse por
parte dos investidores, face ao crescimento da indústria automobilística na
Ásia e surgimento do “costume” americano de se
presentear as noivas com diamante, o qual vem sendo adotado pela sociedade chinesa.
O FUTURO
Bons sinais podem vir a partir de um
crescimento da Índia, com uma população de 1,29 bilhão e PIB de U$ 1,2 trilhão,
se comparada com a China, cuja população
alcança a marca de 1,37 bilhão e um PIB de U$ 3,3 trilhões.
O quadro abaixo mostra como a Índia
pode ser um fator favorável ao novo boom. O
melhor exemplo é número de carros por 1.000 habitantes. Em 2013, esse número
era de 792 nos Estados Unidos, 88 na China e apenas 26 na Índia. O Brasil, em 2011, tinha 249 veículos por 1 mil
habitantes.
Admitindo-se um crescimento igual neste
país, teremos cerca de 62 carros a serem produzidos na Índia para cada 1.000 habitantes, em números atuais, o que
significam mais de 80 milhões de veículos a serem adquiridos por indianos no
futuro, se a Índia se igualar à China em poder
aquisitivo. Quando isso vai ocorrer não se sabe, mas daí surge a esperança de
um novo boom, talvez o último que veremos neste
século, pois depois da Índia os países mais populosos Indonésia e Brasil, já
tem um padrão de vida bem superior.
O efeito do crescimento de carros na
Índia poderá ser estimado pelo volume de commodities contida nos carros: 1
tonelada de aço, 240 libras (lbs) de alumínio, 50
lbs de carbono, 42 lbs de cobre, 41 lbs de silício, 22 lbs de zinco, e mais
trinta outros minerais como titânio, platina e ouro;
e carro será apenas um dos itens de consumo da população indiana associada ao crescimento da infraestrutura. Outros
exemplos como TV seguem pela mesma linha, enquanto há cerca de 950 aparelhos
por 1.000 americanos este número chega a
300 na China e menos de 50 na Índia.
Luís Azevedo, é geólogo e advogado, sócio da FFA Legal Suport for Mining
Companies, Diretor e fundador da ABPM e integrante do board da Talon (TSX), Avanco, Triunfo (ASX) e Brazil Minerals
(OTCQB).
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