sexta-feira, 10 de abril de 2015
Os três corolários da ESTUPIDEZ
Pouco depois de ter lido sobre as Leis de Cipolla,
elaborei o que em minha mente apareceu como o “Primeiro Corolário de Livraghi”.
Então, me dei conta de que não poderia chamá-lo de “primeiro”, porque havia
somente um. Entretanto, minha intuição inicial estava correta. Descobri,
depois, que existem pelo menos três. Aqui estão eles:
Primeiro Corolário:
Em cada um de nós há um fator de estupidez, que é sempre
maior do que supomos.
Segundo Corolário
Quando combinadas, a estupidez de várias pessoas juntas
cresce geometricamente, pela multiplicação – e não pela adição – dos fatores
individuais de estupidez.
Uma ideia geralmente aceita é que “a quantidade de
possíveis inter-relaçöes entre membros de um grupo de pessoas aumenta
proporcionalmente ao quadrado da quantidade de membros”, e parece muito óbvio
que o mesmo critério se aplica à combinação dos fatores individuais de
estupidez. Isso pode ajudar a explicar o fato bem conhecido de que multidões
como um todo são mais estúpidas do que um indivíduo isolado da multidão.
Terceiro Corolário:
A combinação da inteligência de várias pessoas tem um
impacto menor que a combinação da estupidez, porque (Quarta Lei de Cipolla) as
“pessoas não estúpidas sempre subestimam o poder de causar dano que as pessoas
estúpidas têm”.
A estupidez não tem cérebro – não necessita pensar,
organizar-se ou planejar para gerar um efeito combinado. A transferência e
harmonização da inteligência é um processo muito mais complexo.
As pessoas estúpidas podem reunir-se instantaneamente em
uma massa ou em um grupo super-estúpido, enquanto que as pessoas inteligentes
só são efetivas em grupo quando se conhecem bem e têm experiência em trabalho
de equipe. A criação de grupos bem sintonizados de pessoas que compartilhem a
inteligência pode gerar forças anti-estupidez razoavelmente poderosas, mas (diferente
da aglutinação de estupidez) essas pessoas necessitam planejamento organizado e
acompanhamento; e podem perder grande parte de sua efetividade com a
infiltração de pessoas estúpidas, ou pelo surgimento inesperado de estupidez em
pessoas que agem de forma inteligente em qualquer outra atividade.
Em algumas situações, parte desses perigos pode ser
evitados (se bem que não se pode controlá-los totalmente) por meio da
conscientização de que há um problema em potencial, antes que qualquer coisa de
ruim aconteça, e também pelo cuidado de manter “inteligência de reserva” no
grupo (ou em qualquer equipe em operação), para preencher as lacunas e corrigir
os erros, antes que o dano seja sério demais. Qualquer bom capitão de veleiro
sabe o que eu quero dizer, como também o sabe qualquer pessoa experiente em
situações onde a relação causa-efeito seja imediata, direta e tangível.
As comunidades com um elevado fator de inteligência têm
provavelmente um maior potencial de sobrevivência a longo prazo. Mas, para que
isso seja efetivo, deve-se evitar os mais imediatos e potencialmente
devastadores impactos da estupidez compartilhada, que (infelizmente) pode
causar danos substanciais a grande número de pessoas não estúpidas antes que se
auto-destrua.
Outro elemento perigoso na equação (como apontou Carlo
Cipolla) é que a máquina do poder tende a colocar “bandidos inteligentes” na
ponta da pirâmide (e algumas vezes mesmo “bandidos estúpidos”). Esses, por sua vez,
tendem a favorecer e proteger a estupidez e manter a verdadeira inteligência
fora de seu caminho tanto quanto possível. Esse é, creio, por si mesmo, um
importante tema. Pode ser que algum dia eu faça algum comentário a respeito
(Anos depois eu o fiz em “A Estupidez do Poder”).
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