segunda-feira, 18 de maio de 2015
O poder do poder
Uma definição fundamental na teoria de Cipolla é que o
efeito do comportamento deve ser medido não pelo metro de quem faz alguma coisa
(ou não faz o que deveria), mas pelo outro extremo: o ponto de vista de quem
sofre os efeitos do ato daquele pessoa (ou de sua falta de ação). O resultado
óbvio desse conceito básico é um drástico deslocamento no gráfico de Cipolla. O
dano (ou vantagem) é muito maior, dependendo da quantidade de pessoas
envolvidas e do impacto das ações e decisões.
Se uma pessoa em uma relação igualitária consegue tantas
vantagens pessoais quanto causa dano à outra, essa pessoa, na definição de
Cipolla, é um “bandido perfeito”, enquanto que a outra é um “perfeito infeliz”
– e o sistema, como um todo, está em equilíbrio. Obviamente não é assim, quando
há uma diferença de poder.
Em tese, poderíamos admitir que enquanto a porcentagem de
pessoas inteligentes e estúpidas for a mesma, os efeitos do poder são
equilibrados. Mas quando o poder atinge uma grande quantidade de pessoas, o
relacionamento de um para um se perde. É muito mais difícil ouvir, entender e
medir os efeitos e as percepções. Há um “efeito doppler”, um deslocamento, que
leva ao aumento do fator de estupidez. Todos os estudos sérios sobre os
sistemas de poder (embora não necessariamente baseados na noção de que o poder
é estúpido) apontam a necessidade da separação de poderes e da formalização dos
conflitos de poder, para evitar que isso não leve à violência, e a fim de
evitar o “poder absoluto” (isto é, a extrema estupidez). Este problema é tão
grave que todos devem ficar alerta para qualquer concentração exagerada de
poder e buscar explicações para o fato de que tantas coisas não funcionam como
deveriam. Porém, há mais.
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