quinta-feira, 1 de outubro de 2015
Em mineração, empolgação e ufanismo rima com desinformação (parte 2)
Em vermelho: comentários de Fernando Lemos
GARIMPO
13) Do alto, vê-se uma grande clareira na floresta amazônica, (o que permite que se desconfie que não se trata de kimberlito. Os
milhares de corpos de kimberlitos conhecidos não são grandes, menores que 1.000
metros de diâmetro) com a terra avermelhada em contraste
com o verde. Já no chão, a entrada do garimpo parece uma ilha de um ecossistema
seco e sem vida, margeado por um rio de um lado e um lamaçal do outro. É preciso
tomar cuidado com onde se pisa –a terra rachada pode esconder buracos de areia
movediça.
14) Poucos quilômetros à frente, o coração da garimpagem: enormes crateras
enfileiram-se, entrecortadas por montanhas de terra, num horizonte sem
fim (o que conduz a desconfiança de não se
tratar de kimberlito. Os corpos de kimberlitos são pequenos, menores que 1.000
metros de diâmetro). Perto dos buracos erguem-se barracões
precários de madeira cobertos por lonas. É onde os garimpeiros fazem suas
refeições, preparadas por suas mulheres ou por cozinheiras.
15) "Tem muita droga e prostituição, claro, mas vai muita
família para o garimpo. A família toda, mulher e filhos, fica meses lá, e todo
mundo se respeita", conta um garimpeiro que não quer se identificar. Ele
reclama de que a vida no garimpo é muito dura.
16) Chegar até lá já é um sofrimento: da aldeia Roosevelt, a maior de toda
reserva, percorre-se uma estrada de 35 km transitáveis apenas em trator,
veículos potentes ou motocicletas. De moto, a viagem passa por áreas alagadas,
e o veículo precisa ser carregado no braço em alguns momentos. Não raro o
desgaste dos freios é tal que eles acabam antes do fim do percurso de
aproximadamente quatro horas.
17)No
garimpo, o trabalho é pesado, e o retorno, incerto. "Encontramos uma pedra
grande, bonita, de mais de 11 quilates. Entregamos para o atravessador vender e
nunca vimos a cor do dinheiro. Disseram que ele vendeu por R$ 180 mil",
reclama um garimpeiro que, após o episódio, desistiu do trabalho.
18) O sistema de funcionamento do garimpo é uma espécie de engrenagem
complexa, que gera uma "guerra fria" entre garimpeiros, índios e
intermediários: todos tentam passar a perna nos demais.
19) Para começar, um investidor dispõe-se a comprar equipamentos, fazer
contatos com compradores estrangeiros e subornar a fiscalização. Ele utiliza um
intermediário local para negociar cada etapa desse processo –mediante, é claro,
uma comissão.
20) O intermediário contata uma das principais lideranças cinta-larga (cada
uma pode "operar" um trecho do garimpo) e oferece as máquinas em
troca de um percentual da venda das pedras, de 20% a 30%. O garimpeiro entra
como trabalhador braçal, sem renda fixa. É "contratado" pelo líder
indígena e deve se reportar a ele caso encontre pedras. Do total do valor do diamante, o grupo de garimpeiros recebe 7%, parcela
geralmente dividida igualmente entre todos
21) Acontece que o intermediário avalia a pedra entre 30% e 40% abaixo do
valor real da venda, dizem índios e compradores ( a que preço real estão se referindo???? No garimpo?? Preço de são
Paulo??? Ou da Bélgica???). Muitas vezes o índio
recebe sua parte e não repassa aos garimpeiros, que, por sua vez, tentam vazar (desviar) o diamante do garimpo direto para o comprador,
driblando (ludibriando) índios e atravessadores. Pequenas,
as pedras cabem no bolso ou podem ser engolidas; o problema é que, se descoberto,
o garimpeiro corre o risco de pagar com sua vida.
MASSACRE
22) Os primeiros contatos dos cintas-largas com o homem branco foram
trágicos: sofreram um monstruoso genocídio, conhecido como Massacre do Paralelo
Onze, em 1963, que matou 3.500 indígenas e precipitou a extinção do Serviço de
Proteção ao Índio (SPI), sucedido pela Fundação Nacional do Índio (Funai). O
que era uma etnia com cerca de 5.000 indivíduos hoje tem, segundo o Censo,
apenas 1.758 pessoas.
23) A relação com os brancos seguiu estável até o início da garimpagem. Daí
em diante iniciou-se um processo sistemático de aculturação. Primeiro, a
contragosto, os índios permitiram o garimpo com ressalvas, mas a fartura de
dinheiro e as perspectivas de consumo corromperam hábitos e geraram dívidas
muitas vezes impagáveis.
24) Levantamento realizado pela indigenista Maria Inês Hargreaves indica
que, em média, para cada índio cinta-larga, há entre três e quatro processos
judiciais (como são 1.758 há 7.032 processos), a maior parte de cobrança de dívidas. Independentemente das
trapalhadas financeiras, parte do endividamento é fruto de golpes:
estelionatários que abusam do despreparo dos índios para fazê-los assinar
documentos em branco, aceitar juros abusivos e aprovar cartas de crédito sem
detalhamento das condições de pagamento.
25) Para saldar os débitos, muitas vezes cobrados a arma de fogo, permitem a
garimpagem em sua terra e a ela se aliam. "Eles sabem que a situação criminosa
e marginal em que se encontram conduzirá (já está conduzindo, na verdade) toda
a comunidade à extinção. O povo cinta-larga está à beira do genocídio, se não
físico, no mínimo étnico e cultural", sentencia o procurador Reginaldo
Trindade.
26) O coordenador regional da Funai em Cacoal, Bruno Lima e Silva,
corrobora: "A comunidade, no geral, é contra o garimpo, e são apenas
poucas lideranças que lucram com isso e geram divisões políticas na
etnia", afirma.]
7) "Pela vontade da gente, não teria mais garimpo faz tempo, mas o
governo não ajuda", diz uma das mais importantes lideranças, que pediu
para não ser identificada. A queixa tem endereço certo e motivação definida: a
falta de apoio técnico e financeiro da Funai.(
diversas ONG’S alardeiam que os índios vivem em perfeita harmonia com a
natureza, retiram tudo que necessitam da floresta, alimentos remédios,
tudo!!!!)
28) Ainda que elogiem a recente ação regional da fundação, há atritos sobre
repasse de verbas e um histórico de problemas de relacionamento dos
cintas-largas com a gestão do ex-presidente Márcio Meira (2007-12) –alvo, com
mais três dirigentes, de uma ação civil de improbidade administrativa movida
pelo Ministério Público.
29) Em 2014, a Funai destinou apenas R$ 104.823,26 à etnia, um valor médio
de R$ 58 por índio.
30) "A política indigenista vem sofrendo ataques constantes, que podem
ser notados nas PECs e PLs e no enfraquecimento institucional da Funai, seja
por limitação da atuação do órgão, seja pelos recursos irrisórios destinados à
fundação", analisa Bruno Lima e Silva.
31) Por outro lado, o grupo operacional capitaneado pelo Ministério da
Justiça e pela Polícia Federal recebia, entre 2006 e 2009, cerca de R$ 7
milhões por ano para coibir o garimpo. Não só não coibiu como piorou a relação
dos índios com o Estado. Além da questão financeira, os indígenas relatam
maus-tratos –e o Ministério Público já denunciou abusos por parte da própria
Polícia Federal.
32) Rarefeita, mas agressiva, a presença do Estado é evitada pelos
cintas-largas na reserva, o que abre espaço para outras formas de poder:
lobistas, intermediários, operadores do garimpo e líderes religiosos entram na
terra indígena e agem como tutores da comunidade –conseguem remédios, vagas em
hospitais, prometem riquezas e encaminhamento espiritual. A etnia hoje é quase
toda seguidora da Assembléia de Deus.
1 comentários:
tem um golpe da caixa,que ninguem falou nada nos meios de comunicaçao,pelo que fiquei sabendo inventarao uma tal compra de diamantes dos indios(roubo)e tentarao nao pagar pelas pedras,depois de meses derao um minusculo valor pelas pedras,disendo que nao podia ser vendido as pedras por ser extraida em area proibida,e bom explorar estas partes tambem,e botar a cara dos bandidos na midia para que todos saibao que vagabundo tem no poder publico de montao,
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