segunda-feira, 14 de julho de 2014
Amores no garimpo, a Silvia
O Rui,
quase sempre adormecido na velha rede garimpeira armada para a eternidade no
vão principal do barraco facilitava sobremaneira o nosso namoro. Diz-se de
passagem que, por diversas ocasiões conseguimos nos encontrar sozinhos. Bom,
não sei se é desrespeito, se sequer tenho o direito de dizer, a verdade é que
vivi cinco encontros íntimos com Sílvia nas proximidades do barraco do Rui.
O
nosso ninho do amor, ou melhor dizendo, o nosso mocó, ficava no interior de um
espesso igapó, por onde fiz uma espécie de passagem a facão, quase uma trilha
de caça. Eu passava agachado até o limpo coberto de palha, onde armei uma rede
de casal e onde Sílvia me encontrava. O nosso esconderijo era astucioso.
Ninguém, exceto onças, antas ou capivaras imprudentes, seriam capazes de
descobri-lo. Ali nos amávamos num frenesi silencioso, digno de uma grande
paixão e proporcional na intensidade aos perigos que vivíamos. Nos confortáveis
momentos de descanso do amor eu me perguntava e interrogava Sílvia se tudo
aquilo que estávamos vivendo era verdade e se na nossa sina comum estava
realmente previsto uma aventura amorosa semelhante. Ela me respondia sorridente
que sim, “o nosso amor vai durar muito”. Ah! eu não resistia à doce redundância
da resposta e me deixava invadir por um profundo sentimento de ternura em face
àquela boca, cujo sorriso se ofertava inocentemente para mim. Assim, eu a
apertava contra o peito, com a força sincera de quem quer bem. O gostoso nisso
tudo é que eu sentia o que ela sentia. Sorríamos juntos falando bobagens ou
pensando, por exemplo, na cômica, senão engraçada, solução que havíamos
encontrado para viabilizar nossos encontros. Na realidade, quando mergulhávamos
na magia do nosso amor semi proibido, ninguém, nada representava perigo, exceto
o receio que partilhávamos em relação à resistência da velha rede de casal
suportadora dos nossos embates.
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