sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O fabuloso e desconhecido principado de LÍDIMO nas montanhas entre os rios Tapajós e Jamanxim

Utopia tem como significado mais comum à ideia de civilização ideal, imaginária, fantástica. Pode referir-se a uma cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro, quanto no presente, porém em um paralelo. Pode também ser utilizado para definir um sonho ainda não realizado. Uma fantasia, uma esperança muito forte. Utopia é um projeto humanista de transformação social e representa aspectos capitais do humanismo renascentista.
Utopia é um termo inventado por Thomas More que serviu de título para sua principal obra, escrita em latim por volta de 1516. Segundo a versão de vários historiadores, More se fascinou pelas narrações extraordinárias de Américo Vespúcio sobre a recém, avistada ilha, hoje brasileira de Fernando de Noronha, em 1503. More decidiu então escrever sobre um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita. Em sua obra More explica que para melhor resolver os problemas de uma sociedade é preciso um esforço teórico e prático de racionalidade.
Não sabemos se existe e nem se pode existir sociedade perfeita, mas existem sociedades diferentes, isoladas e cada qual tem a sua forma de viver e o estudo destas sociedades vai ao sentido de More de realizar um esforço teórico e prático de racionalidade que falta à muitos políticos deste pais.
Iremos apresentar não essas sociedades, uma por uma, mas uma síntese das sociedades isoladas do Tapajós (também no arquipélago Brasil) que vivem em isolamento relativo por causa do ouro e da floresta, numa única sociedade fictícia, mas com comportamentos reais retirados de atitudes observadas ao longo dos nossos trabalhos nesta imensa região amazônica. Essa sociedade fictícia na sua localização geográfica, mas real nos seus contextos e comportamentos políticos e sociais foi apelidada de Lídimo, termo inventado por nós em 2014 por ser um dos antônimos de Utopia para bem demonstrar que estamos falando desta vez de uma realidade tangível, e não de um sonho como em 1516, mas iremos utilizar o quanto possível o estilo peculiar do renascentista Thomas More na descrição do principado de Lídimo incluindo a terminologia política da época (homens livres, escravos, principados) que hoje mudou, mas permanece sob outros termos.
Iremos apresentar, portanto em sete capítulos, no qual este é o primeiro, o principado de Lídimo:

Capítulo I (história e apresentação):


Aquele um principado bastante povoado, e às suas instituições e príncipe não falta sabedoria, gozam de relativa liberdade e se governam por suas próprias leis. Longe do mar, mas entre dois rios largos e entrecortados de cachoeiras, o Tapajós e o Jamanxim, e cercados de montanhas, se satisfazem com os dois produtos valiosos da sua terra: o ouro e o diamante; vão raramente a outros lugares e raramente outros vêm ao seu país, pois são necessários dias de viagem a pé. Não procuram nunca estender as suas fronteiras, e nada têm a temer de fora. A proteção dos pântanos além das montanhas e do único vizinho do sul para quem eles pagam um tributo anual para ele não deixar passar ninguém e que virou um entreposto comercial para a vida de dezenas de milhares de Lidimianos. Uma estrada não carroçável une o vizinho do sul com o principado, mas uma ponte feita de troncos de maçaranduba corta essa estrada nos limites dos dois e é nesta ponte que o vizinho exerce o seu compromisso remunerado de controle. O baixão, cortado pela ponte é coberto de melechetes produzidos pela longa garimpagem do vizinho e que acabou formando argila movediça intransponível para um ser humano. Só os caminhões do vizinho penetram no principado pela ponte com a carne, os gêneros alimentícios e as ferramentas até os depósitos da capital Lídimia. Os muitos bois são transportados de balsas desde a região das fazendas de Itaituba até a fazenda do vizinho e de lá depois de recuperados, até os açougues de Lídimia. Esses açougues são situados fora da cidade no intuito de evitar também aos cidadãos um espetáculo hediondo, ao mesmo tempo, que desembaraça a cidade das sujeiras e matérias animais cuja putrefação poderia provocar moléstias, é daí que é levada ao mercado a carne limpa e retalhada pelas mãos dos escravos em todas as vilas: pois a lei proíbe aos cidadãos livres o ofício de carniceiro, temerosa que o hábito da matança destrua pouco a pouco o sentimento de humanidade, o sentimento mais nobre do coração do homem. É também impedido a um animal assistir a matança de outro para evitar a perda de qualidade da carne. O principado tem a proteção indireta do governo do arquipélago Brasil onde está inserido e onde o governo deste grande país criou uma reserva ambiental no local sem informar a ninguém, mas que impediu assim os grileiros forasteiros de se apossarem das terras deste principado, pois, sendo reserva, estes grileiros perderam a expectativa de revendê-las. No norte, oeste e leste não há vizinhos, mas uma barreira de pântanos impenetráveis. Vivem comodamente na paz e na abundância, sem exército, só com uma pequena polícia, mas com um Príncipe já idoso, que ocupou essas extensas terras nos anos 70.
Nesta longínqua época, ele se apossou dos bens de uma empresa paulista de Pau Rosa, já falida e da qual era o segurança. Essa empresa fornecia comida e ferramentas aos trabalhadores e comprava a essência de perfume originada da árvore Pau Rosa que revendia para as perfumarias francesas; a empresa descontava essa alimentação e ferramentas do preço da essência e os trabalhadores nunca conseguiam pagar a conta atrasada e se liberar. O nosso futuro príncipe era encarregado de caçar os fugitivos.
O príncipe do qual ninguém se lembra do verdadeiro nome foi o primeiro a encontrar ouro e diamantes por estas bandas e decidiu criar um feudo com alguns homens de sua estrita confiança. Ele ocupou a superfície até encontrar ou vizinhos ou acidentes geográficos intransponíveis e lá assentou o seu poder e suas fronteiras com vilas estrategicamente ligadas a produção de ouro e diamantes e a proteção das fronteiras e requereu o subsolo para impedir que empresas de mineração o façam. Não mede esforços para manter um controle ferrenho nestes processos requeridos e mantidos há décadas através de um geólogo em Belém. Nestes anos todos, enormes quantidades de ouro foram retiradas das montanhas e recentemente de diamantes. Esses minérios o transformaram num homem muito poderoso, podendo tudo, mas ele optou por não querer ser vã celebridade, como outros fizeram antes dele, pois, seu nome, desconhecido no resto da terra, o é só do seu vizinho do sul, do filho piloto de Itaituba, de alguns agentes de confiança em missão fora do principado e do governador do Estado brasileiro onde se situa o seu principado e que ele elegeu com o controle de dezenas de milhares de votos cativos. A única pista de pouso que a empresa paulista de Pau Rosa abriu na hoje capital do principado Lídimia ainda existe, mas o príncipe deixou a floresta fechar a pista. O único piloto de Itaituba que pousa nela é o próprio filho do príncipe e tem um espaço de menos de 50m para colocar as rodas no chão e o resto do pouso se faz protegido embaixo das arvores; na decolagem, o avião fica por uns segundos mergulhando num precipício, mas acaba pegando velocidade e desce ate os grandes rios a dezenas de km de lá. Como é um país de montanhas e de torrentes estreitas, cheias de pedras, não há igarapés e baixões largos, e, portanto, não adianta usar Pás Carregadeiras (PC) ou motores para retirar o ouro e os diamantes; tudo é raso e feito à mão e no objetivo de não destruir o meio ambiente e assim atrair a atenção das mais poderosas autoridades do arquipélago Brasil que se consideram soberanos por cima do principado. A necessidade de muita mão de obra obrigou o príncipe a criar leis que ao mesmo tempo em que dão segurança física e financeira aos muitos trabalhadores formou uma sociedade paternalista que procura proteger esses trabalhadores e dar-lhe bem estar e assim não deixar o principado. A estratificação da sociedade em homens livres e escravos foi criada com um fator de progressão social que acalenta a esperança de muitos.  As muitas casas confortáveis são cobertas de palha ou cavacos e são cuidadosamente construídas integradas a floresta. Não há carros nem caminhões, mas tropas de burros e bois que são empregados exclusivamente no transporte. O boi, dizem os lidimianos não tem a vivacidade do cavalo, mas o sobrepuja em paciência e força; é menos sujeito a moléstias, custa menos para ser nutrido, e quando não serve mais para o trabalho serve ainda para a mesa. Em certas ocasiões, escravos fazem o papel de transporte com um Jamanxim nas costas. As comunicações são feitas por um rádio multi frequência instalado na própria casa do príncipe em códigos e operado pela filha deste, em contato direto com a cunhada em Itaituba que repassa as ligações por telefone para o mundo inteiro e recentemente por uma antena de internet com sinal Wi Fi no quarto dele para os assuntos sigilosos.

Os próximos capítulos versarão a respeito:

DOS ESCRAVOS
DA RELIGIÃO

0 comentários:

Postar um comentário