segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Segundo capítulo do fabuloso e desconhecido principado de LÍDIMO nas montanhas entre os rios Tapajós e Jamanxim

Após haver mostrado em artigo anterior a história de Lídimo e uma apresentação sumária, iremos descrever as cidades chamadas de vilas e a mítica capital Lídimia
O texto esta voluntariamente escrito no estilo renascentista de Thomas More mas descreve uma situação real da atualidade nos garimpo do Tapajós

DAS VILAS DE LÍDIMO E DA CAPITAL LÍDIMIA


Quem conhece uma cidade no Tapajós, conhece todas, porque todas são semelhantes, tanto quanto a natureza do lugar o permita. Poderia, portanto descrever-vos indiferentemente Creporizão, Creporizinho ou São Domingos, a primeira que me ocorresse; mas escolherei de preferência a cidade de Lídimia, porque é a sede do governo de Lídimo, fato que lhe dá preeminência sobre as demais. Além disso, é a cidade que melhor conheço, pois a habitei.
Lídimia se estende em doce declive sobre a vertente de uma colina. No bairro de baixo, sua forma é de quase um quadrado. Começa a estender-se um pouco acima do cume da colina, prolonga-se cerca de mil passos sobre as margens da grota Rica, alargando-se à medida que vai margeando esta.  A nascente da grota Rica é abundante; está situada a dois quilômetros acima de Lídimia. A forte corrente se amansa na sua marcha com o encontro de outras grotas, entre as quais se distinguem dois de grandeza média. Ao chegar diante de Lídimia, à grota Rica já mede 20 passos de largo. A partir daí, segue-se avolumando sempre até desembocar no igarapé Lídimio, após ter percorrido uma extensão de 30 quilómetros.
Dentro de todo o espaço compreendido entre a cidade e a grota, e algumas centenas de metros acima da cidade, onde ela se estreita, as duas margens estão ligadas por uma ponte de madeira, com as toras jogadas por cima do ribeiro. Esta ponte se encontra na extremidade alta da cidade baixa.  Este fato fez com que a cidade fosse dividida em dois grupos: o grupo do nascente e o grupo do poente, cada grupo se achando melhor do que o outro. O príncipe que quer manter a coesão apesar de viver no lado nascente ajuda mais os poentistas para compensar, o que provoca ciumas no grupo nascentista que também se faz chamar de fundadores, pois é onde ficam morando os habitantes do tempo da conquista. Outra grota, pequena é verdade, mas bela corre também no perímetro de Lídimia. Este ribeiro brota a pouca distância da cidade, na montanha sobre que está assentada, e, depois de tê-la cortado ao meio, vem unir suas águas às da grota Rica. Os Lidimianos usam parte da grota Rica como balneário, já que as praias artificiais formadas pelas caixas de lavagem de ouro são de areia fina onde ainda podem ser avistados fagulhos de ouro e que dão a essas praias um tom dourado brilhoso quando o sol bate à tarde. Do ponto mais elevado, ramificam-se em todos os sentidos grossos canos de plástico de cor alaranjada reforçados de arame e sustentado por pilares de madeira que conduzem a água da fonte até caixas de água de cor azul nos quarteirões baixos da cidade; são os decantados aquadutos de Lídimia, que o príncipe com a sua sabedoria adaptou dos aquadutos romanos após uma visita a esta bela cidade italiana.
Das casas: as de madeira pretejada pelo tempo formam fileiras contíguas, acompanhando às ruas, cuja largura é de vinte pés.  Atrás, e entre as casas, abrem-se vastos jardins onde pode ser visto uma pequena horta suspensa de madeira onde só se encontram cebolinhas e couve. Em cada casa há uma porta que dá para a rua e outra para o jardim. Estas duas portas se abrem facilmente com um ligeiro toque, e deixam entrar o primeiro que chega. Nas casas poucos móveis, mas muitas redes penduradas aos armadores. As casas foram construídas ainda do tempo da empresa de Pau Rosa e não pertencem aos habitantes que só as ocupam com a autorização do príncipe. Os habitantes das cidades tratam de seus jardins sem desvelo; mas sempre há fruteiras como mangueiras frondosas, limoeiros, entre outras; não há flores, a não ser bromélias em vasos na frente da casa e plantas medicinais. Põem nessa cultura medicinal tanta ciência e gosto que jamais vi em outra parte maior fertilidade e abundância combinadas. O fundador do principado bem o compreendeu, quando tanto esforço envidou para encaminhar os espíritos nessa direção.
A cidade de Lidímia tem dois bairros: o bairro baixo que já descrevemos dividido em dois grupos rivais e o bairro alto; no bairro baixo moram os mais ricos, os donos de serviços a poente e os agregados do príncipe a nascente e é neste que o armazém do príncipe esta localizado vendendo de tudo; está tão abarrotado de caixas que parece um atacado de grande cidade; há também lojas livres de bijuterias, roupas e lanchonetes além de pequenos artesões como joalheiros na rua do comercio que da sobre a praça e há uma limpeza permanente neste bairro; quanto ao bairro alto, também chamado de bairro liberdade por causa das boates, bares e cabarés é tão somente a pista de pouso, ou a Currutela como chamam os lidimianos. É um bairro alongado de 400m de uma rua só que é a própria pista e as casas se estiram de cada lado desta, escondidas em baixo das arvores. Neste bairro e nesta rua, as casas são mais modernas, mas menores, todas coloridas e não tem nenhum alinhamento, cada qual a construiu com as madeiras locais e o que a distingue do bairro de baixo é a música alta de dia como de noite, os homens na frente de garrafas de cervejas e com muitas mulheres com pouca roupa colorida. As casas são baixas e cumpridas tomando todo o quintal e nestas casas cumpridas, observam-se muitos quartos para as mulheres destes cabarés. Não há limpeza e as latas e garrafas de cervejas e outras bebidas formam montueiros de diversos metros de altura.
O balneário do bairro de cima é outro, uma cachoeira na cabeceira da grota rica e próxima ao barro liberdade, e nesta cachoeira, o lidimiano de baixo pode ir, mas vai escondido, essa cachoeira é também chamada de quebra vidro, mas os lidimianos de cima não podem ir à praia dourada de baixo. O motivo é justamente do costume dos lidimianos de cima de quebrar as garrafas nas pedras o que pode ocasionar acidentes aos banhistas. Na realidade, as mulheres que tomam banhos alegremente sem roupas em grupos é a razão verdadeira do interdito exigido pelas mulheres do bairro de baixo, e o príncipe teve que acatar essa exigência, não o impedindo de frequentar democraticamente o balneário de cima para manter a coesão do principado.
Os Lidimianos atribuem ao príncipe o plano geral de sua cidade, mas não é verdade ela foi planejada pelo empresário paulista da empresa de Pau Rosa, pelo menos no bairro de baixo e a parte de cima foi construída em poucos dias, cada comerciante a fazendo junto com seus empregados;
Do palácio principesco: Localizado no centro do bairro de baixo, do lado nascente na praça, alto o suficiente para avistar as praias artificiais douradas, mas muito abaixo da cidade alta e sem poder ver ou ouvir esta última, o palácio está rodeado por arvores frondosas num jardim  bem cuidado; o palácio não tem muitos quartos, mas uma grande cozinha externa onde todos podem sentar e comer a hora que desejarem, e há uma casa de hóspedes para os visitantes ilustres, atrás do palácio no meio do jardim. Essas duas habitações, a primeira é comum, a segunda luxuosa, se destacam pelos jardins de uma grande beleza.
Das vilas que são muitas, as casas são muito baixas, não há senão choupanas, cabanas de madeira, sem paredes e tetos de palha ou cavacos, com duas águas. Os forros são feitos de lonas, brancas de um lado, pretas do outro; a palha serve para manter uma temperatura agradável e as lonas por baixo para evitar as goteiras dos dilúvios amazônicos, a ausência de algumas paredes nas casas oferece ainda a vantagem de deixar passar a luz e as poucas paredes são orientadas para evitar o vento. Há três compartimentos em cada casa: uma sala com uma mesa grande e dois bancos fixos de madeira tosca, um filtro de água e um jirau com a indispensável garrafa térmica com café já adoçado para todos os visitantes; o segundo compartimento é a cozinha que fica na parte mais baixa do terreno para o esgoto fluir naturalmente e o terceiro é o quarto fechado por lonas ou madeira com a cama do casal. No quarto, há a balança para pesar o ouro ou os diamantes. Cada vila é construída ao redor de um garimpo rico que é o centro de tudo, mas há um único comércio chamado cantina que é ligado ao armazém central da capital Lídimia. Essas franquias comerciais são outorgadas pelo príncipe através de leilões em ouro e por muitos quilos. Ser cantineiro de vila é o cargo mais procurado do principado, pois da cantina local, com os escambos com ouro e diamantes e os empréstimos remunerados aos garimpeiros, o cantineiro passa a ter força política para ser eleito senador da vila e assim gozar dos privilégios do cargo de conselheiro do príncipe. Todos querem as vilas mais produtivas em ouro e diamantes. O preço dos produtos da cantina por lei é o mesmo do armazém central, para evitar a ida de muitos garimpeiros até a cidade; nem todas as casas têm paredes e nenhuma tem porta a não ser um pano. Além das casas e da cantina, há os barracões de solteiros com muitas redes entrelaçadas e roupas penduradas; esses barracões totalmente abertos são deixados na margem do córrego em fase de garimpagem e também se destacam casinhas, todas de cor preta, cobertas nas paredes e tetos de plástico preto, chamadas de fuscão preto e habitadas pelas cozinheiras e solteiras dos garimpos. Construídos mais perto do garimpo ao lado da vila, destinado ao repouso da cozinheira ou a encontros íntimos. Cada fuscão tem uma cama, um pote de água e um pequeno jirau onde podem ser vistos perfumes e um indispensável espelho além de instrumentos para embelezamento. Nas paredes estão coladas fotos de atores de TVl.

Do transporte entre as vilas e a capital: Como já falamos no capitulo inicial, não há carros, nem caminhões, mas além das tropas de burros e bois, há motocicletas e alguns quadricíclos. Estes quadricíclos e motos auxiliam no transporte de mercadoria leve e urgente e servem para a administração do principado. As estradas internas são estreitas e sinuosas em baixo da floresta, podendo passar um homem em fila indiana ou uma moto; ao cruzar as muitas grotas, há pranchas da largura de um pouco mais de uma roda de motocicletas que são transpostas pelos motoqueiros com maestria. Nem todas as estradas apresentam pontes para a travessia dos quadricíclos que precisam de uma bitola especial, e de duas pranchas, mas as estradas para todos os garimpos de diamantes tem esta bitola, pois o príncipe nunca deixa de visitar  esses garimpos para controlar a produção.

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