sábado, 6 de setembro de 2014
As prostitutas das fofocas garimpeiras
Um dia, nesses cafundós do Judas
da Amazônia, um aventureiro, homem de rumo, cai mato adentro, revirando
barrancos de grotas, esgravatando pés de serras, todos os lugares onde ele
julga poder achar ouro. E, um dia, bateando no esmaltado onde pega o rango, lá
aparece o almejado fagulho do precioso metal.
O garimpeiro, além de corajoso e
obstinado, também não é egoísta. Por vocação ou por vaidade, ou para espantar a
solidão põe a boca no mundo, e de repente, dezenas, depois milhares de outros
garimpeiros aparecem na área descoberta por um desses Zé da Silva, da
comunidade garimpeira que faz parte da confraria nômada do Brasil.
Em poucos dias, a mata em volta
esta aberta e surge a currutela. O ouro aparece. Primeiro aos poucos, depois
aos quilos e notícias do achado se alteram por todas as distâncias. Logo, Logo,
jogadores, donos de bares, comerciantes, marreteiros, e, sobretudo, os
mercadores do sexo, os donos de cabaré estão armando suas arapucas para tomarem
parte do esquema de rapinagem do lucro da garimpeirama.
Essas mulheres, atiradas ao
lenocínio por motivos vários, fascinam os garimpeiros.
A presença delas, mais do que
qualquer outra incita esses homens decididos ao trabalho, para poderem gozar
uma noite de licenciosidade com essas rameiras escravizadas pelos donos de
cabarés. Nos cubículos em que dormem, com portas improvisadas, recebem seus
fregueses para cuja aparência nem olhem, porque o interesse é o dinheiro que
irão ganhar por entre abraços para o pão soturno do dia.
De dia, acordam tarde que a
tarefa é dura. Aí se sentam a mesas toscas para desparecer a sorte adversa, nos
copos de cerveja e pingas, a espera que a noite venha e tudo recomece de novo. Algumas
passeiam pelos barrancos e grupiaras farejando algum bamburrado deitando sobre
estes a vesguice dos olhos mercenários, aparentando um amor que nunca irão lhe
dar.
Em geral essas mulheres vindo de
outros prostíbulos se tornaram frias e recebem seus homens de uma só noite
maquinalmente, sem emoção alguma. Mas eles não reparam nisso. Também estão
embrutecidos pela longa experiência de uma vida quase sempre adversa,
marginalizados que são por tudo e por todos, a não ser quando a sorte grande os
bafeja.
Assim acontece nos garimpos do
Tapajós, onde os cabarés com mulheres para todos os gostos e preços, convivem
com os garimpeiros e lhe dão um pouco de ternura mesmo que fria, aplacando o seu
sofrimento e a sua solidão.
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