sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Para quem acha que fazer negócio diretamente com o cacique é uma solução
A impossibilidade de se legalizar, com os espaços tomados por empresas
que nem trabalham nas áreas, com a quase impossibilidade de licenciamentos
ambientais, a constante pressão do IBAMA, alguns garimpeiros partiram para
alternativa de negociar diretamente com os índios. O cacique promete, “aqui
IBAMA não entra, aqui terra índio, aqui não precisar documentos, palavra Índio
é documento“. Para os que tomaram ou
pretendem tomar essa alternativa de sobrevivência, segue abaixo uma experiência
verdadeira, e não é a única:
A estória de um blefe:
O rio Pithatcha, afluente do rio Curuã, na bacia do Rio Xingu, nasce e
morre dentro da reserva indígena Mekronotire, habitada pelos índios Caiapós.
Antes explorada por seringueiros e caçadores de peles de onças, quando a
atividade ainda não era proibida, nunca havia sido objeto de exploração de
ouro. Ate que com a fofoca das balsas do Rio Curua passou a cristalizar o sonho
de muitos.
Índios ao visitar os barracos dos balseiros contavam para os curiosos
que lá pelas cabeceiras, catava-se pedaços de ouro em extensas faixas de
cascalhos croados (superficiais) . Outros mais técnicos e mapas na mão
conjecturavam que era o prolongamento a Sudeste das imensas faixas auríferas já
conhecidas do Tapajós e que as serras ao redor do Pithatcha só podiam encerrar uma
nova Serra Pelada.
O certo é que mais de 2000 homens viam no Pithatcha o bamburro que o
Curua não forneceu. Só faltava combinar com os índios da reserva Mekronotire que
eram os legítimos herdeiros do Rio. Um grupo de intrépidos garimpeiros resolveu
com a intermediação dos índios Baú, negociar o Rio.
Estabeleceu, a priori, que dos resultados das produções 5% seria para
os índios, o que não era pouco a vista das muitas toneladas esperadas, num
extenso rio como este o que nunca na vida os índios podiam sonhar com tanto
dinheiro e seria a redenção dessas comunidades praticamente abandonadas pelo
poder público.
Para o ouro de baixão, por causa dos pedaços de ouro já falados, que
praticamente só bastava se abaixar para pegar, a percentagem para os índios
seriam de 20%. Negócio fechado. O capitão Beb
kum, filho mais novo do cacique, foi designado pela comunidade indígena para
supervisionar as atividades garimpeiras na área. As primeiras balsas começaram
a pesquisar avidamente o leito do rio.
Desprezando ouro certo de 4 (quatro) gramas por hora de mandada, um
grupo seleto de oito balseiros foi escolhido por Beb-kum para iniciar as furações.
No começo, houve decepção e desistência de três balseiros; os cinco restantes,
tomados de uma determinação típica de garimpeiro manso, resolveram levar ate as
últimas consequências àquela aventura que começava mal. Furando e ate
pinicando, depois de três meses, constataram que o ouro do pithatcha era barela
e que o famoso rio era cego. Mas indiferentes ao blefo que já curtiam, focaram
a furar no rumo das cabeceiras, aproveitando as oportunidades que as águas do
inverno ainda propiciavam.
O capitão Beb-Kum, insosso, não entendia direito porque os balseiros
não encontravam o tão prometido ouro, mas o jovem líder tinha seus planos para
aquele rio. Nele, desejava dar inicio a construção de uma aldeia, começando por
uma pista de pouso que os garimpeiros também necessitavam.
Tendo mais de 20 guerreiros vadiando por aquelas paragens, resolveu dar
lhe a incumbência de construir aquela pista de pouso. Os garimpeiros forneceram
as ferramentas e a farinha e a derrubada no terreno escolhido começou.
Três meses depois e com muitos sacos de farinha e o prejuízo de muitos
mutuns e piranhas do local, a pista estava pronta.
De repente e para a alegria de todos os envolvidos , naquela penosa e
difícil exploração , começou-se a tocar em ouro de 30 gramas por puxadas de 10
horas. O ouro foi crescendo, crescendo ate se fixar em 70 gramas em média,
recuperando logo o blefo inicial. Os balseiros começaram a sentir com o ouro no
vidro e no barraco, que uma nova era começava.
Mas estavam enganados, a fase de ouro bom acabou em três semanas e
recomeçaram as furações. O ouro já achado era a prova que havia mais. Mas...
Beb-kum, cansado de tanta procura e nenhum ouro para ele, mandou todo
mundo sair e como os pilotos não queriam voar fiado, os garimpeiros tiveram que
varar a pé por mata adentro, rumo do poente, até a Santarém Cuiabá, deixando
seus equipamentos, moto- bombas, e ferramentas e comendo macaco assado no
caminho.
Por uma questão de costume ou vicio, abriam pranchetas no caminho em
todas as grotas bonitas, mas todas cegas. Desfigurados e aos molambos, chegaram
as suas casas nos confins dos maranhões, Para e Mato Grosso.
Era mais um Blefe, e dos Grandes e eu era um destes aventureiros
fracassados.
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