segunda-feira, 1 de setembro de 2014
DAS ARTES E OFÍCIOS EM LÍDIMO (capítulo 4)
Da arte do ouro
Há uma arte comum a todos os lidimianos,
homens e mulheres, e da qual ninguém consegue isentar-se, é o ouro. As
crianças aprendem a teoria nas escolas e a prática nas grotas vizinhos da
cidade e das vilas, aonde são levadas em passeios recreativos. Aí assistem a
trabalhar e trabalham também, e este exercício traz ainda a vantagem de
desenvolver as suas forças físicas. Além
do garimpo, ensina-se a cada um, ofício especial. Uns são carpinteiros para
fazer as caixas ou emadeirar os poços, outros
trabalham os metais para ferramentas, outros trabalham o ouro para as
joias, outros são prospectores. São esses os principais ofícios.
As roupas têm a mesma forma para todos os habitantes da ilha; esta forma
é invariável, e mal distingue o homem da mulher. Estas vestes privilegiam a
comodidade; facilitam todos os movimentos do corpo e secam rápido na água dos
barrancos.
Em geral, cada um é adestrado na
profissão dos seus gostos, porque é habitualmente a natureza que inspira o gosto
desta profissão. Se alguém, tendo já uma profissão, quer aprender outra, pode
aprendê-la nas condições precedentes. Deixas-lhe a liberdade de exercer a que
melhor lhe convier. A função principal é
a de velar por que ninguém se entregue à ociosidade e à preguiça e todos
exerçam com ânimo a sua profissão. Não se deve crer que os lidimianos se
atrelem ao trabalho como bestas de carga desde a madrugada até à noite. Esta
vida embrutecedora para o espírito e para o corpo seria pior que a tortura e a
escravidão
Os lidimianos dividem o intervalo
de um dia e de uma noite em vinte e quatro horas. oito horas são empregadas nos
trabalhos materiais; eis a sua distribuição. cinco horas de trabalho antes do meio dia, com uma parada no meio para um lanche frio, depois almoçam. Depois de meio
dia, duas horas de repouso, três de trabalho, em seguida jantam. Contam uma hora onde contamos meio dia,
deitam-se as nove e reservam nove horas para o sono. O tempo compreendido entre o trabalho, as
refeições e o sono, cada qual é livre de empregar à sua vontade. Longe de
abusar dessas horas de lazer, abandonando-se à ociosidade e à preguiça,
descansam variando suas ocupações e trabalhos. Estão aptos a assim fazer.
À noite, depois da ceia, os lidimianos
se entregam, durante uma hora, aos divertimentos; pelos jardins, Jogando
dominó, dados, baralho ou se distraem conversando. Mas não é este realmente o
caso. Ao contrário, às oito horas de trabalho produzem abundantemente para
todas as necessidades e comodidades da vida, e ainda um supérfluo bem superior
às exigências do consumo. Compreendereis
facilmente se refletir no grande número de pessoas ociosas existentes nas
outras nações. Antes de tudo, considerai também como são poucos aqueles que a
trabalhar estão empregados em coisas verdadeiramente necessárias, como nas secretarias
e ministérios. Porque, neste século de dinheiro, onde o dinheiro é o Deus e a
medida universal, grande é o número das artes frívolas e vãs que se exercem
unicamente a serviço do luxo e do desregramento. Supondo, pois, que se faça trabalhar utilmente
aqueles que não produzem embora comam o trabalho e o quinhão de dois bons
operários; então, concebereis, sem dificuldade, que disporão de mais tempo do
que necessitam para prover às necessidades e mesmo aos prazeres da vida, quero
dizer, os que se fundam na natureza e na verdade. O que contribui ainda para
abreviar o trabalho é que, tudo sendo bem estabelecido e conservado, há muito
menos o que fazer na Lidimo do que entre nós. Nas outras partes, a construção e
a reparação dos edifícios exigem trabalhos contínuos. Na Lidimo, tudo está tão
bem previsto e organizado que raro é se obrigado a construir em novos terrenos.
Os estragos são consertados no momento em que aparecem, e os que estão
iminentes são prevenidos. Assim, as construções se conservam com pouco gasto e
trabalho. A maior parte do tempo, os operários permanecem em casa para,
desbastando os materiais, talhar a madeira. Quando há uma construção a fazer,
os materiais estão todos prontos e a obra é rapidamente terminada com os
materiais da floresta adjacente. Ides
ver como dispendem pouco os lidimianos para se vestirem. No trabalho, vestem roupas de ginastica ou
roupas de fibra sintética que secam em minutas; Em público, vestem bermuda ou jeans e camisas de manga
curta. As camisas dos times de futebol
vencedores são privilegiadas. No domingo, as mulheres abusam das cores e da
seda e as mais elegantes disputam com as mulheres da currutela, com uma
diferença de estilo.
Assim, todo mundo, na Lidimo,
vive ocupado em artes e ofícios realmente úteis. O trabalho material é de curta
duração e mesmo assim produz a abundância e o supérfluo.
O fim das instituições sociais na
Lidimo é de prover antes de tudo às necessidades do consumo público e
individual e manter os trabalhadores à vontade no local de trabalho;
Da organização do trabalho
O príncipe possui uma equipe de
prospectores, uns testam as grotas com pranchetas, outros procuram filões com
forquilha. Quando se acha uma grota mineraliza, é feita uma amostragem com
trados ao longo do seu curso e ela é piqueteada com fitas coloridas, com 3
cores diferentes.
É dividida em 3 tipos de
trabalhos e 3 cores:
-As mais ricas de cor vermelha quando
o ouro junta na cuia e reservada ao príncipe que ai ira colocar os seus
garimpeiros de confiança ou agregados e ele pagara na percentagem (30%) a estes
pelo trabalho de extração.
- As de teores médios, de cor
laranja, ele dará em parceria para os garimpeiros aptos e honestos, recebendo
10% da produção bruta.
- A de teores baixos, ou de cor
amarela, ele dará para quem quiser, sem cobrar nada além do lucro da venda do
armazém. Não é incomum que os testes iniciais mostrem baixo teor e que ao
descer o barranco, o garimpeiro acaba encontrando um fogão de muito ouro, o que
faz os garimpeiros livres procurar por esse tipo de barranco onde não terão que
dar nada a ninguém.
Diz-se na Lídimo que o príncipe
deixa esses fogões de ouro como uma loteria para cada um se entusiasmar pela
possibilidade de enriquecer rápido; houve um caso de 11 kg de ouro retirado
numa única noite; na realidade, não é o príncipe que deixou o ouro, nem os
prospectores erraram, é que nas montanhas, é comum muita heterogeneidade do
minério porque este ainda não teve o tempo de ser classificado pela natureza,
como ocorre nos igarapés mais largos e de águas mais calmas. No entanto,
heterogeneidade da natureza ou vontade do príncipe, essas ocorrências ajudam a
formar mitos que sustentam a esperança no enriquecimento rápido e a ânsia do
povo no trabalho do garimpo.
Nos poços para tirar ouro de
filões, formam-se equipes que trabalham dia e noite em turnos de 2 homens, um
para cavar em baixo e outro para recuperar o minério na polia e controlar o
compressor de ar e o gerador para as luzes. A equipe só trabalho 2 horas e isto
2 vezes em 24 horas. A equipe recebe 20 % da produção. O chefe do poço recebe
5%. O resto é do dono do poço, que bancou a abertura do mesmo. O dono é um
agregado do príncipe e não se sabe qual a parte que é deixada para este.
Quem comanda o barraco onde os
trabalhadores descansam é a cozinheira; ela receba 4 gramas de ouro de cada
trabalhador por mês.
Do diamante:
O diamante tem um procedimento específico:
há uma equipe que debreia o estéril e lava o cascalho; esse cascalho passa numa
resumidora feita na Lidimo mesmo. A caixa da resumidora é trancada com cadeado
e é aberta na frente de todos. O material da resumidora é peneirado só na presença
de uma pessoa da confiança do príncipe e câmeras estão filmando todos os gestos
do peneirador. Os diamantes são colocados num vidro e levado ate a capital
Lídimia e lá classificados pelo avaliador. Só depois, a equipe ira receber os
seus 10%, mas não em diamante, na moeda local, o ouro. O pessoal que trabalha
em diamante é escolhido pessoalmente pelo príncipe nos melhores homens.
Trabalhar em diamante passou a ser considerado um privilégio, pois recebem de 5
a 10 vezes mais do que os demais trabalhadores. As mulheres das vilas e da
currutela tem uma predileção para os barons como esses trabalhadores são
apelidados e é fácil reconhece-los no domingo, pois há uma incontável quantidade
de cervejas e mulheres ao redor das mesas onde majestosamente, sentam.
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