quarta-feira, 15 de outubro de 2014
A comunicação no garimpo
Nos anos 70, quando o Zé Arara
dominava a compra de ouro no Tapajós, ele fornecia gratuitamente um radio para
os donos de garimpos, era um cordão umbilical obrigando o garimpeiro a vender seu ouro, usar a agencia de aviação e os armazéns deste. No inicio dos anos 80, os
garimpeiros começaram a se libertar deste cordão comprando seus próprios rádios
e falando com um parente em Itaituba que fazia as compras, organizava os voos e
vendia o ouro no melhor preço. No meio da década de 80, apareceram via Manaus,
os radio multifrequência que permitiam falar não somente para a casa de
Itaituba mas para todos os demais garimpos e pilotos. Esse radio era vendido
com uma única frequência, pois era bloqueado pela policia federal mas era imediatamente desbloqueado por
especialistas em Manaus.
Tal uma lista de telefone, cada
garimpeiro tinha a lista das frequências utilizadas na região, tanto dos demais
garimpeiros, como das lojas de insumos, peças, motores e compras de ouro e estes
rádios passaram a formar uma imensa caixa de ressonância do garimpo. Cada qual
procurando uma frequência não muito usada para poder falar. Geralmente os
garimpeiros têm duas frequências, a oficial e a “outra”, ou seja, uma
frequência não conhecida pelos demais para falar de assuntos sigilosos. É
claro, mesmo na outra, podia ser ouvido, mas os conhecidos não conhecendo a
frequência nem os horários, os papos acabavam caindo em ouvidos distantes fora
do círculo intimo do garimpeiro.
O conjunto desta rede imensa de
radio é chamado de radio peão e as meninas do radio de Itaituba, Novo Progresso
e Alta Floresta, que tem um radio deste na cidade acoplado a um aparelho que
conecta a rede telefônica permite as pessoas falar para o mundo inteiro.
As meninas do radio com suas
vozes sensuais passaram a ser o motivo dos sonhos noturnos dos garimpeiros.
Elas cobram por minutos de comunicação e de telefonia
A partir de 2008, a internet
começou a aparecer com a chegada das empresas de mineração que precisavam
enviar dados sigilosos a suas matrizes no Canada e alguns garimpeiros passaram
a usar o mesmo sistema inclusive com WI-FI e uso de celular através do skype
A aparição dos telefones
satélites foi mais uma forma de evitar o radio peão, as brigas pela frequência
e a falta de sigilo.
Mas como a garimpagem é nômada,
muitos garimpeiros não avisam as famílias dos seus movimentos entre os garimpos
e para isto, tem a radio nacional de Brasília que transmite diariamente cedo de
manha, quando o garimpeiro ainda esta na rede ou tomando o café, as mensagens
das mães e esposas aflitas geralmente do Maranhão, pedindo para entrar em
contato.
Quando o garimpeiro tem radio na sua casa em Itaituba, ele
serve para matar a saudade, ocupando o espaço dos demais na frequência. Quando
as mulheres dos garimpos precisam falar com os filhos na cidade, pode acabar
provocando brigas verbais na rede.
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